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O provador digital chegou: a revolução da experiência de compra com IA generativa 203v1h

Por: Rodrigo Cursi de Carvalho 5o16x

Co-CEO e CXO na FRN³

Rodrigo Cursi é Co-CEO, CXO (Chief Experience Officer) e co-fundador da FRN³, empresa especializada em desenvolvimento digital. Com formação em Design de Games e Gráfico e Pós-graduação em Design: Conceito e Aplicação, possui 15 anos de experiência nas áreas de Interface (UI), Experience (UX), branding, e-commerce e aplicativos. Ao longo de sua trajetória, atuou como Diretor de Arte e Criação, liderando projetos de diversos segmentos e tamanhos, com foco em soluções criativas e de alto impacto. Seu trabalho se destaca pelo gerenciamento de equipes criativas e squads especializados em mídia e desenvolvimento de projetos digitais. Atualmente, é especialista em UX e UI, com um portfólio robusto de mais de 500 projetos realizados.

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Eu costumo comprar praticamente tudo online. De itens para a casa a gadgets e livros, mas, quando se trata de certas roupas e calçados, confesso que a experiência de compra ainda carrega certos desafios, especialmente em relação a caimento, proporção e conforto. Gosto de ver como a peça veste e, principalmente, evitar o risco de errar o tamanho. Mesmo com tabelas de medidas e fotos em alta resolução, muitas vezes eu compro algo que não fica 100% ao meu agrado, e isso impacta uma futura recompra. No entanto, essa realidade está prestes a mudar de forma radical, e para melhor.

Três imagens mostram mulheres usando roupas diferentes: uma modelo com vestido laranja vibrante, outra com blusa marrom e calça amarela, e a mesma mulher usando o vestido laranja, sorrindo e fazendo sinal de paz.
(Imagem: divulgação)

Em meus mais de 15 anos de experencia com e-commerce, vi poucas inovações que têm o potencial real de transformar completamente a jornada de compra como o reconhecimento de imagem e modelagem 3D aliada à inteligência artificial generativa. O que antes era visto como um experimento promissor, o “virtual try-on” agora está se consolidando como uma virada de chave na forma como consumidores interagem com produtos online.

A tecnologia, que hoje permite que um usuário envie uma única foto e experimente virtualmente peças de vestuário com um realismo impressionante, evoluiu. Não estamos mais falando de sobreposições estáticas ou edições em Photoshop. Estamos diante de modelos de IA que compreendem tecidos, caimentos e proporções reais de corpos, o que amplia significativamente a precisão do provador virtual.

A IA entende seu corpo e seu gosto 4d124l

O Google, por exemplo, já apresenta um sistema que analisa como diferentes tecidos se comportam sobre corpos com diversas estruturas físicas, respeitando altura, volume, profundidade e até quedas naturais da roupa. O resultado é uma projeção muito mais fiel do que uma peça representará no corpo real do consumidor, algo que afeta diretamente a decisão de compra.

(Vídeo: divulgação)

Hoje, o Google Shopping conta com mais de 50 bilhões de produtos catalogados, e os sistemas de recomendação baseados em machine learning continuam a evoluir. A união entre esse acervo imenso, um provador inteligente e o histórico comportamental do usuário nos leva a uma experiência em que o funil de compra se torna quase imperceptível. O usuário sai do “chat” direto para a experimentação e a compra em poucos cliques.

Redução de devoluções e impacto ambiental 45576u

Trabalhando numa empresa que desenvolve e-commerces, sei que um dos maiores problemas do varejo digital de moda sempre foi o alto índice de devoluções. Segundo a Shopify, aproximadamente 30% das compras online de moda são devolvidas, e a principal razão está na discrepância entre expectativa e realidade. Agora, imagine um cenário em que cada pessoa tem seu próprio “manequim digital”, totalmente fiel ao seu corpo. A assertividade da compra aumenta exponencialmente.

Além de melhorar a satisfação do consumidor, essa mudança tem consequências ambientais. Estima-se que mais de 5 bilhões de quilos de devoluções de roupas acabam em aterros sanitários todos os anos, segundo dados da Return Logic. Com provadores virtuais precisos, esse volume tende a cair de forma expressiva, o que representa um benefício não apenas para o lojista, mas para toda a cadeia de produção e distribuição.

A nova experiência do e-commerce 6i732a

O que vemos é o início de uma transformação tridimensional do e-commerce. A experiência, que por décadas foi baseada em imagens estáticas e descrições de texto, a a ser viva, personalizada e responsiva ao comportamento do consumidor em tempo real. A interface de compra começa a se moldar ao usuário, não o contrário.

Em poucos anos, acredito que veremos avatares pessoais integrados diretamente nos sites de moda, permitindo ao consumidor navegar em qualquer vitrine digital e automaticamente visualizar como aquela peça ficará em seu corpo. Isso vai eliminar a dependência de modelos genéricos e permitir que o próprio usuário se veja no papel de protagonista da experiência.

O futuro da moda digital é interativo, inteligente e escalável 3h41q

Temos muito trabalho pela frente. Para que o avatar digital funcione em qualquer site, serão necessários padronização de formatos, integração entre APIs e uma governança de dados que respeite privacidade e segurança. Mas o avanço já é inevitável. Plataformas como Zalando, Amazon e Farfetch têm investido pesado em tecnologias de provador virtual com apoio de IA. Segundo a McKinsey, até 20% das interações de moda online terão algum tipo de recurso virtual de experimentação até 2026.

E não estamos mais falando de “imersão” apenas com VR ou AR, embora essas tecnologias também tenham papel relevante, mas de IA que gera contexto, comparação e personalização em escala. Em vez de apresentar dezenas de fotos com diferentes ângulos de um vestido, a experiência pode ser uma conversa em tempo real com uma IA que entende o estilo do cliente, propõe looks e permite ver todos no seu próprio corpo virtual.

Estamos diante de uma nova lógica de interface no e-commerce 4b7172

O impacto da IA generativa sobre o e-commerce de moda é profundo e vai muito além do “encantar o cliente”. Trata-se de otimizar margens, reduzir desperdício, acelerar a tomada de decisão e criar uma experiência mais justa para o consumidor.

Como gestor de CX e tecnologia em um mercado altamente competitivo, vejo com clareza que o avanço não é mais uma questão de “quando”, mas de como as empresas vão se adaptar. A digitalização do corpo humano como parte da jornada de compra já começou e quem sair na frente, entendendo essa dinâmica, poderá reescrever os padrões do varejo online nos próximos anos.