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SHEIN aposta na Europa para driblar ofensiva tarifária dos EUA 3176b

Por: Lucas Kina 5j3bp

Jornalista e produtor de Podcasts no E-Commerce Brasil

Diante de novos entraves regulatórios nos Estados Unidos, a SHEIN tem intensificado sua presença na Europa com campanhas publicitárias, lobby político e uma estratégia de imagem mais voltada à sustentabilidade. A varejista de moda rápida — que tem sede em Singapura, embora suas raízes sejam da China — perdeu parte do protagonismo no mercado norte-americano após a revogação de isenções fiscais para pequenas encomendas, anunciada no início de abril pelo governo de Donald Trump. As informações são da Nikkei Asia.

SHEIN aposta na Europa para driblar ofensiva tarifária dos EUA
(Imagem: Reuters)

Com o cenário adverso nos EUA — onde os investimentos em publicidade digital caíram 67% em abril —, a SHEIN redirecionou esforços para a Europa. Apenas nos primeiros 12 dias de maio, a empresa aumentou em 70% os gastos com mídia digital no continente em relação ao ano anterior, segundo dados da Sensor Tower. No Reino Unido, o salto foi ainda maior: 135%.

A resposta local, no entanto, tem sido mista. Em Paris, onde a SHEIN lidera o e-commerce de moda, ONGs e entidades sindicais satirizaram a campanha “moda é um direito, não um privilégio” com críticas sobre as condições de trabalho e o impacto ambiental da empresa. Grupos ambientais também acusam a varejista de greenwashing e prometem acionar autoridades reguladoras.

Segundo o Institut Français de la Mode (IFM), quase um terço das compras de moda na França já são feitas online. A média de 14 euros pagos por uma camiseta no país é considerada ível dentro do padrão europeu, mas ainda acima da média praticada pela SHEIN. O instituto questiona a alegação da empresa de que produz menos resíduos por adotar um modelo sob demanda, afirmando que a adaptação rápida às tendências já é comum no setor.

Lobby político e protagonismo em vendas 665p1b

Além das campanhas de imagem, a SHEIN tem ampliado sua atuação política na região. A empresa contratou nomes influentes, como um ex-ministro do Interior francês, para defender seus interesses regulatórios. O esforço visa preservar seu desempenho de mercado, já que, em 2024, a varejista online movimentou cerca de US$ 2,4 bilhões em vendas líquidas online na França, segundo a Statista.

No primeiro trimestre de 2025, a SHEIN foi a quinta maior varejista de moda em volume no país, ficando atrás da Vinted, especializada em peças de segunda mão. A rival e também asiática, Temu, aparece na 24ª posição.

O mercado europeu deve ficar ainda mais desafiador. A Comissão Europeia propôs uma taxa fixa de 2 euros para encomendas de até 150 euros vindas de fora do bloco. Em 2024, cerca de 4,6 bilhões dessas remessas entraram na UE — 91% delas originadas da China.

Sustentabilidade e mudança de comportamento 5w3t4b

O Parlamento francês discute para 10 de junho um projeto de lei que pretende taxar itens de fast-fashion e regular sua publicidade. Apesar do apoio de grupos ambientais e trabalhistas, especialistas alertam para os riscos de efeitos colaterais sobre empresas locais. Ainda assim, o comportamento do consumidor pode ser mais determinante que qualquer regulação.

“Os compradores da Geração Z estão mais atentos aos impactos ambientais e podem priorizar marcas sustentáveis”, afirmou Joshua Sherrard-Bewhay, analista ESG da gestora Hargreaves Lansdown. Ele citou que o Reino Unido descarta 300 mil toneladas de tecido por ano e destacou o avanço da economia circular como resposta a esse cenário.

Cenário 4x37s

A ofensiva internacional da SHEIN vem em meio a pressões crescentes também no bloco europeu. A Comissão Europeia da União Europeia (UE) ameaçou multar a companhia por publicidade enganosa e descontos considerados falsos. França e outros países do bloco estudam criar tarifas para produtos de plataformas como SHEIN e Temu, além de debater medidas que limitem a publicidade do fast-fashion importado.

Enquanto isso, a empresa teria colocado em espera os planos de IPO na bolsa de valores em Londres. A opção agora seria uma listagem em Hong Kong — ainda incerta diante dos riscos percebidos por investidores. Entre eles, estão incluídos a possível exclusão do mercado norte-americano, questionamentos sobre práticas sustentáveis e dúvidas sobre a viabilidade de seu modelo de produção sob demanda.