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Por que a retenção começa só depois do checkout - e quase ninguém percebe 64u2k

Por: Denis Strum g654q

Com quase 20 anos de experiência em estratégias digitais e growth para B2B e B2C, Denis Strum tem uma trajetória marcada por acelerações digitais em diversos setores, como full commerce, varejo e tecnologia. Foi sócio e CMO da Synapcom, pioneiro no full commerce no Brasil. Depois atuou como diretor na unidade de digital da Infracommerce. Antes disso, foi o primeiro profissional de marketing da WestWing, onde estruturou as estratégias de aquisição e retenção da companhia.

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Imagine o seguinte cenário: você aluga um carro por . Durante meses, tudo corre perfeitamente. Nenhum problema, nenhum imprevisto. Parece ótimo, certo?

Mas então chega o momento da renovação… e você hesita.

Por quê? Porque, na prática, você nunca precisou acionar o seguro, nunca teve um sinistro, nunca experimentou o benefício do carro reserva. O serviço funcionou, sim, mas ficou invisível. E quando algo é invisível… muitas vezes é subestimado.

Pessoa realiza compra online de óculos em um tablet, com cartão de crédito.
Imagem: Freepik.

Isso acontece com mais frequência do que você imagina – no aluguel de celulares, no streaming, em modelos de , no e-commerce e até no marketing digital.

Aqui mora um erro estratégico grave: achar que “nenhuma reclamação é igual a satisfação”. Não é.

O paradoxo da ausência de problema 1o4l1p

Existe um paradoxo pouco discutido na gestão de clientes, especialmente no digital: clientes que não enfrentaram nenhum atrito não são, necessariamente, os mais fiéis.

Por quê? Porque também não tiveram a oportunidade de experimentar o verdadeiro diferencial da sua operação. Não conheceram os benefícios ocultos, não perceberam o cuidado além da entrega básica.

Sem atrito, não há prova de confiança. Sem confiança, não há vínculo. E sem vínculo, não há retenção.

No mundo das s, essa realidade é escancarada. Dados consolidados do mercado mostram que clientes que não interagem – ou que não percebem valor além do básico – têm taxa de cancelamento até três vezes maior.

O mercado aéreo ensina isso todos os dias 6a6n25

Pense na experiência de voo.

Companhias como Latam, Azul ou Emirates trabalham de forma obsessiva o conceito de retenção e personalização:

– Tudo começa no check-in.
– A cabine reflete seu perfil.
– O atendimento sabe seu nome.
– E, mais relevante, sabe se você teve um problema no voo anterior.

Se sua mala foi extraviada, se houve atraso ou desconforto, o sistema sabe. E o atendimento se antecipa.

“Senhor João, soubemos que seu voo anterior teve atraso na conexão. Fique tranquilo, hoje sua bagagem já está no destino final.”

Simples, humano, poderoso. Isso não é só atendimento. Isso é estratégia de retenção aplicada com excelência.

A armadilha do e-commerce: obsessão pela aquisição 3k6i1o

No digital, muitos gestores estão presos no jogo da aquisição: CAC, ROAS, mídia paga, funil, conversão.

Perfeito. É fundamental. Mas a pergunta que poucos fazem é: “o que acontece depois que o cliente compra?”.

Se a resposta for “nada além do básico”, o problema é invisível, mas existe.

O checkout não é o fim. É o começo.

O full commerce inteligente não é só sobre vender. É sobre manter.

Aqui está o ponto central deste artigo.

Full commerce não é – e não pode ser – apenas uma operação logística, de mídia ou de checkout. Full commerce inteligente é aquele que cuida da jornada completa.

E isso significa:

– Monitorar a experiência após a compra.
– Antecipar dores, não esperar reclamações.
– Criar rotinas de encantamento no pós-venda.
– Usar dados não apenas para vender, mas para personalizar o relacionamento.
– Transformar cada contato em uma oportunidade de aumentar LTV e fortalecer vínculo.

Empresas que operam sem essa visão estão simplesmente empilhando pedidos, mas não estão construindo marca.

Por que isso importa tanto? Aqui vai a matemática da retenção.

Um estudo clássico da Harvard Business Review revela que aumentar a retenção de clientes em apenas 5% pode elevar os lucros entre 25% e 95%.

E mais: é até 7x mais barato manter um cliente do que adquirir um novo. Isso não é teoria. Isso é matemática empresarial.

O pós-venda não é um departamento. É uma cultura operacional.

Retenção aplicada: como transformar pós-venda em valor p2938

Empresas que operam com foco na jornada entendem que a retenção nasce do detalhe, não da sorte. E ela se materializa em ações muito práticas:

– Monitorar a experiência após a compra.
– Antecipar dores, não esperar reclamações.
– Criar rotinas de encantamento no pós-venda.
– Usar dados não apenas para vender, mas para personalizar o relacionamento.
– Transformar cada contato em uma oportunidade de fortalecer vínculo e gerar mais valor.

Quer alguns exemplos práticos desse pensamento em ação?

Um cliente compra um eletrônico. No dia seguinte, não recebe um pedido de avaliação, mas sim um conteúdo com dicas avançadas de uso, um manual otimizado e um benefício extra: “Se acontecer qualquer problema nos primeiros 30 dias, a troca é gratuita.” Resultado? Redução de cancelamento, aumento de vendas cruzadas e percepção clara de valor.

Em outra situação, em vez de simplesmente enviar uma nota fiscal, o cliente recebe uma sequência de conteúdos educativos, recomendações de manutenção, atualizações e ofertas personalizadas com base no histórico de compras. O resultado? A marca deixa de ser uma fornecedora e a a ser referência no segmento.

E, claro, também há o uso inteligente de dados para antecipar problemas. Imagine que um pedido sofreu atraso. Antes mesmo de o cliente perceber, ele recebe uma notificação: “Identificamos um pequeno atraso no seu pedido. Pedimos desculpas. E, para compensar, você acaba de ganhar 10% de desconto na sua próxima compra.” Resultado? Zero reclamações, aumento de recompra e fortalecimento do NPS.

Retenção: o jogo que separa quem opera de quem constrói marca 1iq36

Se há um modelo de negócio que escancarou essa verdade é o de . Lições muito claras surgem desse ecossistema: se o cliente não percebe valor constantemente, ele parte.

Não é uma questão de satisfação ou insatisfação. É uma questão de relevância percebida.

E essa lógica não se limita ao mundo da recorrência. Ela é ainda mais brutal no e-commerce e no digital, onde a próxima opção está sempre a um clique de distância. Quem não entrega valor além da transação simplesmente se torna mais uma opção genérica no mercado.

Aqui vai uma verdade desconfortável – e absolutamente poderosa: “Vender preenche uma meta. Encantar sustenta um negócio.”

Em qualquer operação digital, seja de produtos ou serviços, o jogo da retenção não se ganha apenas com preços, prazos e promessas. Se ganha no detalhe. Na antecipação de problemas. Na entrega de valor contínuo. No cuidado após a compra. No relacionamento que não depende de uma venda para existir.

E, sim, isso vale tanto para quem vende produtos quanto para quem entrega serviços, mídia ou tecnologia. Quando falamos em estruturação de jornadas digitais – seja de e-commerce, seja de marketing, seja de operações integradas -, uma coisa precisa ficar clara: a venda é só o começo.

Empresas que crescem de forma consistente são aquelas que constroem uma cultura centrada no cliente. Que entendem que dados não servem só para mídia, mas para criar experiências. Que sabem que cada interação, mesmo depois da compra, é uma oportunidade de reforçar a proposta de valor, de gerar encantamento, de transformar compradores em defensores da marca.

No fim, a pergunta que realmente importa não é quantos pedidos você processou. Nem quantas campanhas você rodou. Nem qual foi seu ROAS na última Black Friday. A pergunta que separa quem opera de quem constrói é muito mais simples e muito mais poderosa: quantos clientes você fez questão de manter?

Porque, no final, não se trata de quantos carrinhos você converte. Trata-se de quantas relações você constrói. E de quantas delas fazem questão de continuar com você – e de te recomendar.